Quando eu tinha 12 anos, era fã de Davi. Ele parecia familiar, como um pop star poderia parecer familiar. As palavras de Salmos eram tão poéticas quanto religiosas e ele era uma estrela. Antes que Davi pudesse cumprir a profecia e se tornar o Rei de Israel, ele teve que tomar uma bela surra. Ele esteve no exílio e acabou numa caverna em alguma cidade fronteiriça enfrentando o colapso de seu ego e o abandono de Deus. Mas é aí onde a novela se torna interessante. É onde diz-se que Davi compôs seu primeiro salmo - um blues. Este é o motivo por quê vários salmos parecem o blues para mim. O homem gritando com Deus: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que se acha tão longe de me ajudar?" (Salmo 22).
Eu ouço ecos desse barulho santo quando um cantor de blues, não-santo, Robert Johnson grita: "Há um cão do inferno no meu caminho" ou Van Morrison canta "Algumas vezes eu me sinto como uma criança órfã". Texas Alexander imita os Salmos em Justice Blues: "Eu clamei, Senhor meu Pai. Reino do Senhor venha. Traga de volta minha mulher, então Tua vontade será feita". Engraçado, algumas vezes são blasfemadores... o blues foi uma música marginal mas, pela sua grande oposição, louvou o assunto principal de seu primo perfeito, o gospel.
Abandono e deslocamento formam o conjunto dos meus salmos favoritos. O livro pode ser uma fonte de música gospel, mas para mim o que o salmista realmente revela é desespero e a natureza de seu relacionamento especial com Deus. Honestamente, até do ponto de vista da raiva: "Até quando, Senhor? Esconder-te-ás para sempre?" (Salmos 89:46) ou "Me responda quando eu clamar" (Salmo 5).
Davi era uma estrela, o Elvis da Bíblia, se nós pudermos acreditar na escultura de Michelangelo. E extraordinariamente para alguém tão "rock star", com sua sede de poder, sede de mulheres, sede de vida, ele tinha a humildade de alguém que conhecia seu dom trabalhado mais intensamente do que nunca. Ele até mesmo dançou nu na frente das suas tropas - o equivalente bíblico de seguidores reais. Definitivamente, Davi era mais artista do que político.
Bono
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