"Elvis conhecia mais músicas de Blues do que a maioria no ramo" - B.B.King

sábado, 19 de setembro de 2020

Elvis Racista?

* Atualizado em 17/03/2024 *
Obs.: contém vídeos.

Uma professora da rede municipal de São Paulo e candidata a vereadora (derrotada nas urnas) pelo PCdoB (e em 2022 candidata a deputada estadual pelo MDB e mais uma vez derrotada nas urnas), publicou na sua conta do Facebook (no dia 14/07/20) um vídeo da magnífica cantora gospel Rosetta Tharpe com os seguintes (infelizes e inverídicos) dizeres (no título da postagem e na resposta de um comentário):

Abaixo, segue a carta resposta que enviamos para ela, por e-mail, no dia 14/09/20 e que não obtivemos (até a data desta publicação/atualização) nenhuma resposta.

Olá, tudo bem? Sou musicista, amante e pesquisador musical, especialmente do jazz, blues, country, soul e rock and roll. Li uma postagem que você fez no facebook sobre a maravilhosa irmã Rosetta Tharpe e também uma resposta que você postou em uma afirmação de uma amiga sua que disse ter lido que Elvis era racista. Somos um fã clube filiado à “EPE Elvis Presley Enterprises, Inc.” (que cuida dos direitos e obras de Elvis Presley). Tivemos o prazer de conhecer pessoalmente os músicos, amigos e alguns familiares de Elvis e tudo que cito aqui foi dito e escrito por eles. E posso te afirmar: Elvis foi um ser humano incrível! Com muitos defeitos, como eu e você, mas de um coração e uma generosidade enorme, e gostaria de mostrar-te aqui, com a sua licença, alguns equívocos que você cometeu em sua postagem.

Vou por pontos, e peço que leia com paciência e atenção os fatos que vou apresentar aqui (vou tentar ser o mais breve, pois isso daria vários livros).

1. Irmã Rosetta Tharpe é a “mãe do rock”

Sim, Elvis era apaixonado por irmã Rosetta e pelo seu estilo de tocar guitarra. Ela contratou, no final da década de 1940, como grupo vocal e banda de apoio os The Jordanaires (grupo branco de gospel) que depois, a partir de 1956, trabalharia com Elvis. Gordon Stoker (primeiro tenor, pianista, organista e percussionista dos The Jordanaires), disse: "Elvis adorava Sister Rosetta. Principalmente seu estilo de tocar guitarra, que era muito diferente".

Irmã Rosetta Tharpe é conhecida - com todo o mérito - como a "madrinha do rock and roll" (incluída no Rock and Roll Hall of Fame na categoria "Early Influences" - artistas (brancos e negros) anteriores ao nascimento do rock & roll, mas que tiveram um impacto profundo na evolução do ritmo), mas não é possível denominá-la como a “mãe do rock", pois ela era exclusivamente uma evangelista e cantora de “gospel music” (inclusive sua popularidade entrou em declínio quando, no começo da década de 1950, gravou algumas canções de blues e, mesmo voltando gradualmente para o circuito gospel, nunca mais obteve o mesmo sucesso). Talvez este título vista melhor em Memphis Minnie (excepcional guitarrista e cantora de Blues que nasceu 18 anos antes de Sister Rosetta e foi sua grande inspiração), Big Mama Thornton (uma cantora negra de blues, homossexual, gaitista e baterista) ou LaVern Baker (cantora de R&B e notável por seu poder vocal e energia rítmica, e a segunda cantora solo a ir para o Rock and Roll Hall of Fame, depois de Aretha Franklin) ou mesmo em Ruth Brown (conhecida como a "rainha do rhythm & blues" e a artista negra que mais vendeu discos no início dos anos 1950), porém havia outras cantoras e instrumentistas naquela época que fariam jus a esta alcunha, porém “o rock and roll” não tem uma só cor ou um só criador ou “pai/mãe”, pois a sua formação levou muitos anos e nasceu da mistura e do intercambio cultural de negros e brancos, através dos músicos de country (branco), blues (negro), western swing (branco), boogie woogie (negro), gospel (brancos e negros), spirituals (negro), folk (branco) etc., e, portanto, podemos chamá-lo de um ritmo multicultural. Desde a década de 1920 havia gravações, tanto de músicos negros quanto de músicos brancos, que poderiam ser chamados de embrião do “rock and roll”. E como diz o ditado no meio musical: “o country e o blues tiveram um filho, o rock and roll”. Portanto o rock é mestiço e foi um importante meio de integração entre brancos e negros, sendo o primeiro ritmo musical a unir estas duas culturas, tanto no palco quanto na plateia!

Sister Rosetta Tharpe, Big Mama Thornton, LaVern Baker e Ruth Brown

2. Você disse que Elvis era racista



No estado do Mississipi (EUA) da década de 1930, mais especificamente na cidade de East Tupelo, havia os bairros pobres, os bairros miseráveis e os bairros negros (abaixo da linha da pobreza) e Elvis nasceu, num barraco de dois cômodos, exatamente neste último bairro. A família Presley era tão – e, em alguns momentos, até mais - pobre do que muitas das famílias negras da região, e foi neste ambiente de miséria que Elvis nasceu e cresceu.

Elvis foi criado dentro da igreja Assembleia de Deus, frequentada por sua mãe, mas ele gostava mesmo era de frequentar a igreja Batista East Trigg, de onde dizia ter aprendido os seus requebros frenéticos, que mais tarde usaria em seus shows, com os pregadores negros desta igreja.

Myrna Smith (The Sweet Inspirations) afirmou em entrevista: "Elvis, na juventude, ia naquelas igrejas gospel negras em Memphis e isso exigia muita coragem. Os meninos brancos simplesmente não iriam lá, era uma coisa corajosa de se fazer, mas ele ia. Não havia uma gota de racismo em Elvis".

Quando começou a fazer sucesso e conseguiu melhorar de vida, Elvis comprou um rancho no bairro negro de Memphis, onde morou dos 22 anos até a sua morte. Portanto, Elvis nasceu, cresceu, conviveu e morreu entre os negros.

Elvis convivia com negros (até o dia de sua morte), desde amigos, membros da equipe, músicos, funcionários, namorada, etc. Todos eles são unânimes ao dizer que Elvis nunca os tratou com inferioridade ou racismo, e até hoje Elvis tem muitos admiradores na comunidade negra mundial.

Depoimento de Sam Bell, amigo de infância de Elvis

Membros do time de futebol da Universidade da Carolina do Norte lendo silenciosamente a inscrição na lápide de Elvis Presley enquanto visitavam a Mansão Graceland em 17 de dezembro de 1977. Os Tar Heels enfrentariam o Nebraska no Liberty Bowl de 19/12/77. (foto by CHicago Tribune)

Há centenas de fatos sobre Elvis que mostra o quanto ele não era racista, fatos estes em ações, não em simples palavras.

Elvis frequentava os mesmos banheiros usados por negros em Memphis (cidade extremamente racista/segregacionista), conforme o grande Soul Man Al Green conta no vídeo abaixo.

Elvis costumava cortar seus cabelos no Jim's Barber Shop de Memphis
Willa Monroe - a primeira disc jockey negra da WDIA
Willa Monroe - a primeira disc jockey negra da WDIA
Sargento Elvis
Elvis no Exército

Todos os músicos e funcionários de Elvis, durante as turnês, se hospedavam no mesmo hotel de luxo e tinham os mesmos tratamentos que Elvis. Isso era uma exigência do próprio Elvis.

Quando Elvis fez sua primeira turnê pelo Texas, os organizadores e patrocinadores lhe disseram que as garotas negras da equipe de Elvis (que cantavam com ele no palco) não eram bem-vindas ali e não poderiam ficar com ele no mesmo hotel e que se elas viessem, deveriam se hospedar em um hotel do outro lado da cidade, bem mais simples e que aceitava negros. Elvis respondeu: “Bem, se elas não forem e não ficarem conosco no mesmo hotel, não tem show!”. Como todos os ingressos estavam vendidos, os organizadores tiveram que aceitar. E não parou por aí! Elvis pediu um carro conversível, dirigido pela filha loira do organizador que disse que as suas cantoras negras não poderiam ficar no mesmo hotel, e entrou no estádio lotado para o show com as suas cantoras negras dento do carro conversível e com a filha loira do organizador dirigindo. Isso foi contado pela própria Myrna Smith, umas de suas cantoras e que estava no carro conversível.

Em 27 de julho de 1975, Elvis estava na loja de carros “Madison Cadillac” comprando alguns carros quando reparou em uma senhora negra admirando o carro dele na rua. Elvis foi até ela e perguntou o seu nome e se ela gostou do carro. A senhora se chamava Mennie L. Person e respondeu a Elvis que amou o carro, mas que jamais poderia ter igual pois trabalhava como caixa de banco e ganhava bem pouco. Elvis disse-lhe: "bem, esse é meu, mas vou comprar um para a senhora". Elvis a acompanhou até o showroom da loja e disse: "Escolha um". Ela escolheu um Cadillac Eldorado branco e dourado zerinho que custou, naquela época, $11.500. Elvis foi lá, pagou, mandou fazer os documentos todos em nome dela, pegou a chave e entregou nas mãos dela e disse: “é seu!”.

Elvis, você sabia que você é meu namorado?

Vaneese Thomas (cantora americana de rhythm-and-blues, jazz e soul blues, e filha do grande Rufus Thomas) conheceu Elvis pessoalmente na noite de sexta-feira, 7 de dezembro de 1956, quando tinha 4 anos de idade. O encontro aconteceu nos bastidores do Ellis Auditorium, em Memphis, durante o show beneficente “Goodwill Revue” (em prol da Goodwill Fund - organização sem fins lucrativos para preservação da cultura negra, que originalmente fornecia transporte escolar para crianças negras deficientes e depois incluiu bolsas de estudo para faculdades e auxilio a habitação suplementar de baixo custo) patrocinado pela estação de rádio WDIA (primeira estação de rádio negra dos EUA, fundada em 1947). O show contou com apresentações de B.B. King, Ray Charles e seu pai Rufus Thomas (compositor, dançarino, humorista, cantor de rhythm-and-blues, funk, soul, blues e disc-jockey da WDIA), além de uma breve aparição surpresa de Elvis, a convite do próprio Rufus (Elvis era ouvinte assíduo da WDIA desde garoto).

Vaneese narra como foi o encontro em uma entrevista para a revista “Living Blues” (#246, vol. 47, nº 6, pag. 24 – Dezembro de 2016 - dedicada à comunidade negra amante do blues tradicional):

“A WDIA sempre tinha “revues” (shows de auditório com plateia) - duas por ano, uma no verão e uma no inverno – e a ‘Goodwill Revue’ foi no inverno e papai tinha os discos de Elvis (ouvíamos Elvis na vitrola de casa) e queria convidá-lo para participar do evento. O gerente geral da rádio achou que isso não iria agradar à comunidade negra, e papai disse: ‘Você está errado! Em primeiro lugar, as pessoas amam Elvis, especialmente em Memphis. E as mulheres, não importa sua etnia, simplesmente caem e enlouquecem por causa de Elvis. Vamos apresentá-lo ao público e veremos a reação da multidão’. E foi exatamente isso que meu pai fez. No final do show, papai disse: ‘Temos um convidado surpresa para vocês nesta noite’. Ele apresentou Elvis, e quando Elvis apareceu, a reação foi exatamente como ele esperava. As meninas enlouqueceram. Isso provou que Elvis era muito querido na comunidade negra, e papai começou a tocar seus discos na WDIA. Papai foi o primeiro DJ negro a tocar a música de Elvis, e numa rádio totalmente voltada ao público negro.

Rufus Thomas e Elvis

Quando eu vi Elvis, disse para ele, puxando a calda do seu fraque: ‘você sabia que você é meu namorado?’. Elvis então sorriu, se abaixou e me colocou em seu colo.

O legendário fotógrafo afro-americano Ernest Withers (que documentou mais de 60 anos de história afro-americana no Sul segregado, com imagens icônicas do boicote aos ônibus de Montgomery, Emmett Till, greve de saneamento de Memphis, Negro league baseball e músicos, incluindo aqueles relacionados ao Memphis blues e Memphis soul) capturou o momento em uma foto preto e branco.

A foto está agora em destaque em uma colagem de fotos vintage no encarte do meu CD "The Long Journey Home", um conjunto de blues e canções de soul que eu e meu marido multi-instrumentista Wayne Warnecke produzimos em nosso estúdio caseiro”.

Há dezenas de fotos de Elvis abraçado e beijando fãs negros e outros artistas negros como Mahalia Jackson (cantora de Spirituals), de quem Elvis era muito fã e ela também era fã de Elvis. Elvis ajudou financeiramente muitos cantores negros, fundos de caridades, asilos e orfanatos, reformou igrejas e hospitais, etc. Até hoje parte da fortuna dele (ele ainda é um dos artistas mortos que mais fatura) é destinada para a caridade.

3. Quando ficou famoso, mudou o estilo musical e se afastou dos negros

Elvis não “mudou” seu estilo, mas foi evoluindo com o tempo (o que acontece com todos os bons cantores). Elvis era muito eclético e cantou e gravou de tudo (inclusive uma canção bossa nova do compositor brasileiro Luiz Bonfá). A influência negra continuou até sua morte e é bem nítida em todas as fases de sua carreira, tanto através das músicas (em todos os shows ele cantava gospel music, blues, soul e também pedia para o grupo feminino negro de soul, as Sweet Inspirations, fazer um show antes do dele), quanto do convívio dos amigos e músicos no camarim e nas festas pós-shows (como veremos abaixo). Dentre os amigos mais chegados de Elvis estavam Tom Jones (grande cantor galês), James Brown (o rei da soul music e do funk), Muhammad Ali (maior boxeador da historia e um dos maiores ativistas da causa negra no mundo), Jackie Wilson (The Black Elvis - um dos maiores cantores negros de R&B daquela época e de quem Elvis era muito fã) e Sammy Davis Jr. (cantor, dançarino, ator e um dos maiores "showman" da época). Destes, só Tom era branco! Ali frequentava a casa de Elvis e Elvis frequentava o rancho de Ali nas montanhas. Elvis presenteou Ali com um roupão de Box todo cheio de pedras preciosas e Ali deu para Elvis seu par de luvas autografadas. James Brown vivia junto com Elvis e o chamava de “meu irmão de alma”. Quando Elvis morreu, James Brow ficou desolado e permaneceu o tempo todo chorando muito ao lado do caixão de Elvis. Jackie Wilson se divertia em ver Elvis imitando ele na forma de dançar e do penteado e sempre ia aos seus shows e festas. Quando Jackie ficou em coma, Elvis pagou parte da conta do hospital (como cito mais abaixo). Sammy Davis Jr. frequentava sempre a casa e as festas de Elvis e até havia começado um projeto com Elvis de produzir filmes para o cinema.

Entre os muitos funcionários de Elvis, estava Mary Jenkins Langston. Ela trabalhou como cozinheira pessoal por 14 anos (até a morte de Elvis). Ela disse em entrevistas e em seu livro que Elvis a tratava não só como sua cozinheira, mas como um membro da família, chegando até a presenteá-la com quatro carros e uma casa de três quartos. A amizade deles era tão bacana que quando Elvis ficou internado ela levava hot-dogs escondido para ele.

Outra funcionária de Elvis que era negra foi a Nancy Rooks. Ela trabalhou com Elvis de 1967 até sua morte. Em uma entrevista ela disse: “muitas vezes me perguntam se já vi algum sinal de preconceito em Elvis. Eu posso afirmar honestamente que nunca vi. Ele nunca deixou a cor da pele das pessoas afetar a maneira como ele as tratava”.
Em seu livro "Inside Graceland: Elvis' Maid Remembers, March 23, 2005 - Xlibris Corp.", Nancy diz: "uma vez Elvis me disse: eu não quero ser tratado como uma 'estrela' em minha própria casa; Ok, respondi, então vou tratá-lo como se fosse o meu irmão".

Elvis namorou, em meados de 1970, com uma moça negra chamada Maggie. A própria Nancy diz isso na mesma entrevista citada acima e em seu livro (cap. 4). Ela diz: “Elvis namorou uma bela jovem negra chamada Maggie. Ela era telefonista e quando se conheceram em pouco tempo uma forte atração se desenvolveu entre ela e Elvis”.

A grande cantora Dionne Warwick conta no vídeo abaixo como conheceu Elvis e como ele a tratou e a ajudou a vender mais discos.

Sylvia Shemwell conta como Deus a curou do câncer após Elvis orar por ela.

Em 1968, quando Elvis resolveu voltar aos palcos e aos shows ao vivo, a NBC fez um especial acústico com Elvis (o primeiro acústico da história registrado em vídeo) para esta volta de Elvis aos palcos após anos gravando filmes. O especial ficou conhecido como '68 Comeback Special. Este especial foi ao ar num momento critico da historia do racismo nos EUA: o assassinato do grande Martin Luther King. Neste especial, que foi ao ar poucos meses depois da morte de Martin Luther King, assassinado em abril na cidade de Memphis, e por isso mesmo no auge do racismo, Elvis fez questão de, mesmo após muita briga dos diretores do especial e da NBC, que eram contra:

a). Dedicar uma parte do especial onde ele aparece cantando ao lado grupo vocal feminino chamado "The Blossoms", grupo que era composto por três mulheres negras (Fanita James, Jean King, Darlene Love).

b). Apresentar um grupo de dança com o bailarino negro e homossexual Claude Thompson (que como cito abaixo, foi o responsável pela maquiagem e a coreografia do especial).

c). E Elvis encerra o especial, vestido todo de branco e com a música “If I Can Dream”, que Elvis pediu que fosse composta especialmente para o especial, em homenagem ao Martin Luther King (contrariando o seu empresário e os produtores do programa, que insistiam que o encerramento fosse com uma canção natalina). Tudo isso no horário nobre e no maior canal de TV dos EUA, fato que causou uma grande polêmica na época.

4. Não havia pretos em seus filmes

Barbara McNair foi uma das artistas principais do filme de Elvis "Change of Habit" (1969) e, inclusive, teve um relacionamento amoroso com Elvis.

Kitty Jean Bilbrew (Kitty White), cantora de jazz, participou do filme King Creole (1958), onde canta em dueto com Elvis. Outros atores negros também participam deste filme.

Nesta cena do filme “Frankie and Johnny” (1966), conforme narrado por Frederick De Cordova (diretor do filme) e por Paul Simpson (em seu livro "The Rough Guide to Elvis" - 2002), era para Elvis ter seus sapatos engraxados pelo garotinho enquanto cantava o Blues “Hard Luck”, porém Elvis não gostou da ideia e pediu para mudar a cena, onde o garoto não engraxa os seus sapatos, mas se junta a ele na canção, de igual para igual, tocando gaita (obs.: na cena ele apenas dubla a gaita, que é tocada pelo musico de Nashville, Charlie McCoy). O garotinho é Russel lssac Miller, mais tarde conhecido como “Issac Sundiata The Griot”, um escritor, poeta, contador de histórias e ativista social.

George McFadden & The Jubilee Four Fizeram uma participação especial no filme "Viva Las Vegas" (1964) cantando Cheek to Cheek (The Climb).

5. Não havia pretos em seus shows e no auditório

Entre centenas e centenas de shows, citarei apenas um (para não tomar muito o seu tempo): Elvis NBC TV Special ('68 Comeback Special) - considerado o primeiro Acústico (Unplugged) da história registrado em vídeo. Foi ao ar em 03/12/68, poucos meses depois da morte de Martin Luther King, portanto, no auge do racismo, e havia negros tanto no palco quanto na platéia (e na primeira fila!)


Na foto abaixo vemos o olhar espantado e engraçado de Elvis e a Linda Sue Cozad Kelso, superfã de Elvis, toda encabulada. A história por trás desta desta foto se deu em dois shows. No show da noite de 21 de março de 1976, em Cincinnati, Linda ergueu um cartaz para Elvis com os seguintes dizeres: "Um beijo ou eu vou morrer". Elvis viu e pegou o cartaz de Linda naquela noite. O segundo show, no qual foi feita essa foto, foi na Filadélfia em 28 de junho de 1976, quando Linda ergueu outro cartaz que dizia: "Lembra Cincinnati? Um beijo ou eu vou morrer". Elvis pegou o cartaz novamente, levantou-o e disse, com esse olhar brincalhão: "O que aconteceu em Cincinnati???", deixando Linda toda encabulada. Ah, sim! Elvis a beijou nas duas vezes!

Negros que faziam parte da equipe de Shows de Elvis Presley:

* Jerome 'Stump' Monroe – baterista e membro da equipe da turnê (1969 até 1977, quando Elvis faleceu).

* Cissy Houston (mãe de Whitney Houston) - 1969 backing vocal, coral e fazia a abertura dos shows de Elvis.
* Sylvia Shemwell - (1969 até 1977, quando Elvis faleceu) backing vocal, coral e fazia a abertura dos shows de Elvis.
* Myrna Smith - (1969 até 1977, quando Elvis faleceu) backing vocal, coral e fazia a abertura dos shows de Elvis.
* Estelle Brown - (1969 até 1977, quando Elvis faleceu) backing vocal, coral e fazia a abertura dos shows de Elvis.

* Fanita James, Jean King e Darlene Love (The Blossoms) – 1968 cantaram com Elvis no especial de TV na NBC.

* Claude Thompson – ator, maquiador, dançarino e coreografo homossexual. Dançou no especial de Elvis para a TV em 68 e foi o responsável pelas coreografias e maquiagens do especial por sugestão do próprio Elvis.

Tanto no auditório, quanto nos bastidores e nas festas pós-shows de Elvis sempre havia negros. Basta ver vídeos e fotos dos shows, dos bastidores e das filas do lado de fora de seus concertos.

6. Elvis roubou a cultura negra, enriqueceu assinando autoria de músicas

Elvis nunca disse que havia inventado o rock ou coisa do tipo. Ele sempre deixava claro que os negros já faziam isso antes dele. Elvis disse em entrevista: "Muita gente diz que eu comecei o rock, mas o rock'n'roll já existia muito antes de eu aparecer. Ninguém consegue cantar essa música como os negros. Vamos falar a verdade: eu não consigo cantar como Fats Domino. Eu sei disso".

Elvis odiava ser chamado de rei. Ele sempre respondia:

Elvis nunca assinou uma musica de outro compositor - negro ou branco - como se fosse dele (mesmo esta pratica desonesta sendo muito comum naquela época). Pelo contrario, ele fazia questão de citar todos os autores e músicos e chegou até mesmo a cantar em seus shows e programas de TV, músicas de amigos negros (como foi o caso da gravação de Long Tall Sally de Little Richards) e dizer de quem era a canção, ajudando assim a popularizar seus amigos, inclusive entre a audiência branca. Muitos jovens (eu fui um deles) conheceram o blues, o soul, o gospel e a Black music em geral graças ao Elvis, pois ele fazia questão de citar seus ídolos nos shows, entrevistas e gravações.

Mais de 90% das canções de sucessos de Elvis foram compostas por brancos, inclusive o clássico “Hound Dog” que entre outros artistas, foi o maior sucesso da (a já citada aqui) cantora negra Mama Thornton. Esta canção é composição da dupla de judeus americanos Jerry Leiber e Mike Stoller, que compôs muitos dos sucessos de Elvis.


Jerry Leiber e Mike Stoller

Elvis ajudou muitos cantores negros, tanto gravando suas musicas (que rendiam lucros e fama com a audiência branca rica para esses cantores), quanto patrocinando suas gravações. Como um, de inúmeros, exemplos, cito o bluesman e ídolo de Elvis, Big Boy Crudup (um dos candidatos ao titulo de “pai” do rock and roll). Elvis custeou despesas pessoais de Crudup em muitas ocasiões para lhe ajudar a sair de alguns apertos econômicos e também pagou a gravação de um novo álbum para Crudup, numa época que ele estava esquecido no cenário musical.

Quando Jackie Wilson, grande cantor e amigo de Elvis, passou mal em um show e ficou em coma por quase 9 anos (75-84), Elvis ia visitá-lo com frequência e pagou parte da conta do hospital (Jackie não voltou do coma e faleceu em 1984).

Não gostar do estilo de Elvis, da sua voz ou canções, preferir escutar só rockers negros, etc., é questão de gosto e opinião pessoal, mas não podem acusá-lo de algo tão nojento como é o racismo, ainda mais com a prodigalidade de fatos comprovando que isto não é verdade. Muito obrigado por ler este meu artigo.

Gostaria de encerrar com as palavras dos próprios envolvidos e interessados nesta questão de "racismo" e "apropriação cultural": os artistas negros!

Little Richard
"Elvis foi um integrador, Elvis foi uma bênção. Eles não deixavam a música negra aparecer, e ele abriu as portas para a música negra.Eu agradeço a Deus por Elvis Presley. Agradeço a Deus por ter mandado Elvis para abrir a porta para que eu pudesse atravessar e caminhar pela minha estrada.
Adoro Elvis Presley. É o meu companheiro, meu bebê. Adoro-o. Éramos bons amigos. (Sua morte) Foi uma grande perda para o mundo da música. Elvis é um dos maiores artistas que viveram neste mundo, eletrizante, elevado... oh, ele é... não consigo dizer o suficiente. Ele é lindo, adoro Elvis. É uma lenda!"

Muhammad Ali (Cassius Clay)
"Elvis era meu amigo íntimo. Ele veio ao meu campo de treinamento em Deer Lake cerca de dois anos antes de morrer. Ele nos disse que não queria que ninguém nos incomodasse. Ele queria paz e sossego e eu dei a ele uma cabana no meu acampamento e ninguém sabia. Quando as câmeras começaram a me observar treinar, ele estava no alto da colina dormindo na cabana. Elvis fez um robe para mim. Não admiro ninguém, mas Elvis Presley era o mais doce, o mais humilde e o homem mais legal que você gostaria de conhecer."

"Quando eu tinha 15 anos e vi Elvis na TV, queria ser Elvis. Outras crianças da vizinhança ouviam Ray Charles e James Brown, mas eu ouvia Elvis. Eu o admirava muito e decidi que, se eu fosse ser famoso, faria exatamente como ele. Ele é uma das razões pelas quais eu queria entreter as pessoas e ser amado por elas e fazer as meninas me admirarem tanto.

Eu tinha 14 anos quando ouvi Elvis dizer que compraria um carro e uma casa para sua mãe quando ficasse rico, e isso me fez querer fazer a mesma coisa. Eu disse: "Quando ficar rico e famoso, vou comprar um carro para minha mãe e depois uma casa". Depois da minha primeira luta profissional, comprei um Cadillac rosa para minha mãe ... E depois da minha segunda luta comprei uma casa para os meus pais. Assim como Elvis.

Nós, negros, somos meio engraçados com música. Não vamos seguir alguém a menos que ele tenha alma - Little Richard, Chuck Berry, Michael Jackson - mas o único garoto branco que tinha alma, que cantava tão bem quanto qualquer um deles era Elvis... Ele tinha habilidade para cantar, ele tinha tudo - ele era bonito, eu sei. E quando se trata de boxe, ninguém tem a classe, o estilo, a inteligência, a velocidade, a beleza de Ali. E quando se trata de cantar, ninguém tinha tudo como Elvis ... Vou dizer ao mundo, Elvis foi o melhor de todos os tempos.

Elvis era meu amigo íntimo. Ele veio ao meu campo de treinamento em Deer Lake cerca de dois anos antes de morrer. Não admiro ninguém, mas Elvis Presley foi o homem mais doce, humilde e simpático que você gostaria de conhecer."

Muhammad Ali - Running with the Champ

Muhammad Ali visitando o túmulo de seu amigo Elvis - quinta-feira, 16/08/1985. (Foto AP/Mark Humphrey - Associated Press)

Ali foi a Memphis (após a morte de Elvis) durante a "Semana Elvis" e pediu para falar no serviço memorial. De acordo com o que George Klein nos conta: "já estava na hora de começar o serviço memorial, e Ali não estava lá, então saí para falar com a multidão. Bem, eu começo a falar, e então vejo um homem andando em direção ao palco, logo abaixo do corredor, e era o campeão Ali. Apresentei-o como se tivesse sido 'planejado', e ele começou a falar, e fez uma linda homenagem a Elvis sem nenhuma anotação ou esboço. E então, no final, ele cantou uma versão a cappella de 'Don't Be Cruel'. Foi perfeito. Ele não perdeu uma palavra ou uma nota".

Rufus Thomas
"Muita gente disse que Elvis roubou nossa música. Roubou a música do homem negro. Mas o homem negro, o homem branco, não são donos da música. A música pertence ao universo."

Jackie Wilson
"Muita gente acusou Elvis de roubar a música dos negros, quando na verdade, quase todos os intérpretes negros copiaram os trejeitos de palco de Elvis."

B.B. King
"Lembro de ver Elvis bem jovem, nos estúdios da Sun Records. Naquela época eu já sabia que aquele menino tinha um grande talento. Ele era um menino dinâmico. A maneira como ele cantava, sua maneira de interpretar uma canção, era tão única quanto Sinatra. Eu era um grande fã e, se Elvis tivesse vivido mais, não haveria limites para sua inventividade. Com Elvis nunca houve uma única gota de racismo. Ele era único... Uma pena que não tenha cantado mais o blues... Eu era um grande fã."
“Elvis era diferente. Ele era amigável. Lembro-me distintamente de Elvis porque ele era bonito, quieto e educado demais. Falo com esse sotaque sulista grosseiro e arrastado e ele sempre me chamou de 'Senhor'. Eu gostei disso. Gostei da voz dele, embora não tivesse ideia de que ele estava se preparando para conquistar o mundo”.
"(Música) não é exclusivo do negro ou do branco ou de qualquer outra cor. É compartilhado em e por nossas almas. Eu disse isso a Elvis uma vez, e ele me disse que se lembrava que eu lhe disse isso, é que 'música é como água. A água é para cada pessoa viva e cada coisa viva'."
"Eu tocava minha Lucille (sua guitarra) e cantava com Elvis, ou nos revezávamos. Naquele momento, éramos os Blues Brothers originais porque aquele homem conhecia mais músicas de blues do que a maioria no ramo."

Al Green
"Elvis influenciou todo mundo. Ele quebrou o gelo para todos nós."

James Brown
"Eu não era apenas um fã, eu era seu irmão. Ele dizia que eu era bom e eu dizia que ele era bom; nós nunca discutimos sobre isso. Elvis era um trabalhador, dedicado, e Deus o amava ... Eu o amo e espero vê-lo no céu. Nunca haverá outro como aquele irmão de alma. Eu o amei e ele era realmente o rei do rock and roll. Nós sempre tivemos um tipo de lance. Elvis e eu. O rei do rock and roll e o Rei do Soul. Elvis ensinou a América branca a se ajoelhar. Eu amava Elvis e espero vê-lo no Céu. Nunca vai haver outro 'soul brother' como ele."

Chuck Berry
"Eu não sou o 'pai do rock and roll', eu sou certamente um dente na engrenagem, como meu pai costumava dizer. Outros dentes desta engrenagem são o Fast Domino, Louis Jordan, Fast Waller, Little Richard, Bill Halley e Elvis Presley. Fomos todos, penso eu, um dente na engrenagem. Todos nós fizemos 'a bola rolar'.
Descrever Elvis? Ele foi o maior que já existiu, ou que existirá."

Isaac Hayes
"Elvis era um gigante e influenciou todos no business."

Myrna Smith (The Sweet Inspirations)
"Eu sei que não importa a cor que eu fosse, Elvis teria me amado da mesma forma. Ele me tratava como uma princesa! Não havia uma gota de racismo nele."

Estelle Brown "Elvis não foi apenas outro homem no planeta. Elvis foi enviado para cá. Ele foi um anjo. Todos nós fomos tocados pelo mesmo anjo: Elvis!"

Howlin 'Wolf
"Não importa se ele é branco, Elvis é um bluesman. Ele começou do blues"
O próprio Howlin' Wolf considerava Elvis Presley um parceiro, chamando-o de “aquele cantor de blues de Memphis... que foi para Hollywood” - Peter Guralnick

Jermaine Jackson - Jackson 5
"Também somos (família Jackson) fãs de Elvis. Nós crescemos assistindo seus filmes, tudo. Nós gostamos dele."

Sammy Davis Jr
“Logo no início, alguém me disse que Elvis era negro. E eu disse 'Não, ele é branco, mas ele é 'de casa'. E é disso que se trata. Não ser preto ou branco é ser 'dos nossos/ter a mesma essência'. Numa escala de um a dez, eu daria onze para Elvis!".

Cissy Houston (cantora e mãe de Whitney Houston)
"Elvis adorava música gospel negra. Ele foi criado nela. E ele realmente sabia do que estava falando. Ele cantava gospel o tempo todo - quase tudo que ele fazia tinha esse sabor. Você não pode fugir de quais são suas raízes."

"Elvis é um dos nossos. Um branquelo com voz de negro”
Sterling Jeter - um cidadão comum de 75 anos, taxista negro e admirador de B. B. King, Muddy Waters e Marc Gasol (pivô dos Memphis Grizzlies)

"Não existe raça negra e raça branca. Só existe uma raça: a Humana!"
Léo Eugênio - um septuagenário, meu amigo há quase 30 anos, que sentiu na pele o que é racismo e hoje é um vitorioso e exemplo de vida, sem nunca ter propagado o ódio!

Canal Elvis Blues - ESTB

Elvis Sings The Gospel

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"O Blues não é nada além de um bom homem se sentindo mal"

“Muitas pessoas se perguntam ‘O que é o blues?’ Eu escuto muita gente falando ‘O blues.. O blues…’ Mas eu vou vos dizer o que o blues é. Quando você não tem dinheiro, você tem o blues. Quando você não tem dinheiro para pagar o aluguel de sua casa, você ainda tem o blues. Muitas pessoas saem falando ‘Eu não gosto de blues’ mas quando você não tem dinheiro, não pode pagar o aluguel de sua casa e não pode comprar comida, você com certeza tem o blues. Se você não tem dinheiro, você tem o blues, porque pensa maldosamente. Isso mesmo. Toda vez que você pensa maldosamente, você está pensando no blues." Howling Wolf

"As pessoas costumam me perguntar onde surgiu o Blues, e tudo o que posso dizer é que quando eu era rapaz, sempre estávamos cantando nos campos. Na verdade não cantávamos, você sabe, gritávamos, mas inventamos as nossas canções sobre coisas que estavam acontecendo conosco naquele momento e acho que foi assim que começou o Blues." Son House

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