"Elvis conhecia mais músicas de Blues do que a maioria no ramo" - B.B.King

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Meu encontro com Elvis Presley - Dulce Damasceno de Brito

Dulce Damasceno de Brito (1926 - 2008) foi uma jornalista brasileira, especializada em cinema. Ela foi a primeira mulher brasileira a ser correspondente em Hollywood nas décadas de 50 e 60. Ficou conhecida por sua íntima amizade com Carmen Miranda (estava com ela na noite de sua morte e escreveu, em 1986, a biografia “O ABC de Carmen Miranda”) e por entrevistar diversas celebridades da época, entre elas, Elvis Presley.

Em 1952, Dulce foi para Hollywood, contratada como correspondente dos “Diários Associados” e da revista “O Cruzeiro”, e lá viveu durante 16 anos. Nesse período conheceu quase todas as celebridades da capital do cinema. Ao contrário do que ocorre hoje, ela tinha trânsito livre nos estúdios, chegando a tornar-se amiga de muitos artistas famosos. Entrevistou nomes como Marilyn Monroe, Clark Gable, Elizabeth Taylor, Rock Hudson, Doris Day, Cary Grant, Marlene Dietrich, James Stewart, Charlton Heston, Audrey Hepburn, John Wayne, Jane Wyman, Sophia Loren, James Dean, Barbara Stanwyck, Gregory Peck, Walt Disney, Grace Kelly, Carmen Miranda e Marlon Brando (que se recusava a receber jornalistas mas deu entrevistas para Dulce em três ocasiões), entre outros. Naquela época, numa imprensa em que não havia o gravador, os jornalistas, para comprovar que tinham entrevistado determinada personalidade, eram obrigados pelas chefias a tirar uma foto com a pessoa.

Em 1956, Dulce consegue uma rápida entrevista com Elvis - algo muito difícil na época - durante as gravações de seu primeiro filme, "Love me Tender". A matéria foi para a revista "O Cruzeiro", uma das principais revistas no Brasil na década de 1950. Dulce o achou muito tímido e apegado aos valores religiosos e à família. Elvis mostrou-se muito educado com Dulce, despedindo-se da mesma com um "até breve".

Em 1979, Dulce descreve, em sua coluna na revista “Contigo”, como foi o seu encontro com Elvis:

"Elvis estava tímido e eu emocionada. Mais do que repórter, me sentia como uma fã em frente ao meu grande ídolo. E nosso primeiro encontro foi realmente inesquecível. Ele já era o Rei do Rock, famoso, festejado e desejado por todas as mulheres. Mas nem por isso perdia o jeito humilde, simples e sincero. Elvis Presley tinha o ar de um garotão encabulado.

Fomos apresentados, em 1956, nos estúdios da Fox em Beverly Hills, quando visitei o local de filmagens de Love Me Tender, seu primeiro trabalho no cinema. E, para disfarçar sua inibição, Elvis foi logo comentando que o estúdio havia mandado tingir seus cabelos de castanho claro, para fotografar melhor, com feições mais suaves e românticas. Ele não gostara muito da ideia. Tanto assim que já a partir do segundo filme, Loving You, Elvis bateu o pé e insistiu em conservar os cabelos pretos. Sempre foi uma pessoa autêntica e um homem muito bem educado. A ponto de, quando o fotógrafo da Fox se aproximou para bater uma chapa (foto) nossa, Elvis murmurar "excuse-me" (com licença) antes de me abraçar. E toda essa delicadeza contrastava violentamente com seu domínio no palco, com sua capacidade de fazer o público delirar, com o modo sedutor e arrojado que fez explodir a juventude.

A vida de Elvis era cantar e ele sempre dizia isso com muita convicção, No entanto, durante nossa entrevista, ele me confessou que também adorava dançar. Aliás, ninguém melhor do que Elvis para transformar a dança em um show de calor, vibração e sensualidade. Seu magnetismo pessoal levava os fãs à loucura.

Eu mesma me emocionava profundamente durante suas apresentações. Mas, apesar de todo o sex-appeal, no fundo Elvis seria sempre um homem tímido fora dos palcos. E isso se explicava pelos excessivos cuidados com que foi cercado durante a infância, por ser um garoto de saúde frágil. Já adulto, Elvis precisava tomar muitos remédios devido a problemas respiratórios. E tantos medicamentos terminavam por engordá-lo. Cada vez que isso acontecia, ele passava algum tempo sem se apresentar em público. Mas voltava sempre em sua melhor forma.

Frente a frente com um astro internacional, eu sentia de perto seu fascínio e descobria o que realmente o tornava irresistível. Ao falar, Elvis acompanhava suas palavras com um sorriso aberto, de dentes perfeitos. E tinha um olhar envolvente, um tanto triste. Não gostava muito de comentar sua vida na intimidade, mas aos poucos, ia se sentindo à vontade para revelar que não bebia nem fumava.

Hoje, passados dois anos de sua morte, a imagem que me ficou de Elvis Presley é a de um homem fabuloso, que marcou época com seu talento e personalidade. Um Elvis que era capaz de apertar a mão de uma fã como eu e dizer "até breve" com a certeza de que na vida de um mito jamais haveria um "adeus"."

Fontes: Revista O Cruzeiro, edição 1, 20/10/1956 / Livro “Hollywood Nua e Crua” – 1968 / Revista Contigo nº 285 - 17/08/1979

Um comentário:

Unknown disse...

Muito legal! Meu pai tinha essas revistas O Cruzeiro.

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"O Blues não é nada além de um bom homem se sentindo mal"

“Muitas pessoas se perguntam ‘O que é o blues?’ Eu escuto muita gente falando ‘O blues.. O blues…’ Mas eu vou vos dizer o que o blues é. Quando você não tem dinheiro, você tem o blues. Quando você não tem dinheiro para pagar o aluguel de sua casa, você ainda tem o blues. Muitas pessoas saem falando ‘Eu não gosto de blues’ mas quando você não tem dinheiro, não pode pagar o aluguel de sua casa e não pode comprar comida, você com certeza tem o blues. Se você não tem dinheiro, você tem o blues, porque pensa maldosamente. Isso mesmo. Toda vez que você pensa maldosamente, você está pensando no blues." Howling Wolf

"As pessoas costumam me perguntar onde surgiu o Blues, e tudo o que posso dizer é que quando eu era rapaz, sempre estávamos cantando nos campos. Na verdade não cantávamos, você sabe, gritávamos, mas inventamos as nossas canções sobre coisas que estavam acontecendo conosco naquele momento e acho que foi assim que começou o Blues." Son House

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